Cansa-me tentar conciliar o que por si só é inconciliável. Cansa-me esta estóica espera, cansa-me olhar da janelao mesmo horizonte imutável... tudo permanece igual. Sinto-me só e vazia, mutilada de mesmice e rotina. Sinto morrer em mim os últimos lampejos de moça menina.
Pra onde vou? De que lado sopra o vento? Mas o ar está parado, pesado, como se lhe faltasse forças para ir ou para ficar... estamos ambos, eu e o vento sem forças para ventar...
E quando fico assim, só tem um jeito! Vou vestir meu traje de purpurina,vou calçar sandálias de bailarina, vou botar a máscara de messalina, vou cair na noite e dançar... Não quero mais nada formal, não quero clube oficial. Quero o inconvencional assim tipo gafieira, para sacudir a poeira e dançar à exaustão.
Quero ser a última a deixar o salão.Voltar respirando ar de madrugada, exalando meu suor misturado a perfume dos camaradas que me tiraram pra dançar. Que me fizeram sentir viva e admirada boêmia, mulher da noite, boneca cobiçada ainda que seja tudo fachada.
Porque amanhã eu vou olhar da janela que sem cerimônia vai escancarar a minha sina de ser só, triste, quase invicta, quase imaculada esperando por tempo infinito, o amor da pessoa errada...
Nesta mesma janela que dá pro nada eu olho mais uma vez. Acovardada ( ou ajuizada?), ao invés de dançar vou dormir. Quem sabe se em sonho ele vem, e por fim me faz...AMADA!!!
( Fátima Irene Pinto )